domingo, 23 de janeiro de 2011

FÓRUM DAS LETRAS DE OURO PRETO 2010

CRÉDITO DAS FOTOS: MARLENE GANDRA


A presidente da Confraria Cultural Brasil-Portugal, Fátima Quadros, e a escritora portuguesa Margarida Paredes


O moçambicano Mia Couto autografou seu livro após proferir palestra




Mia Couto e Margarida Paredes

Expressões da literatura contemporânea africana e portuguesa no Fórum das Letras de Ouro Preto


*Marlene Gandra
marlenecult@hotmail.com

O biólogo e escritor moçambicano Mia Couto, filho de portugueses, esteve no Fórum das Letras de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, no dia 15 de novembro de 2010, e explanou sobre o tema Escrita, Liberdade e Transformação do Mundo. E Margarida Paredes, nascida em Coimbra, Portugal, que debateu o assunto: Minha Guerra Alheia: Mulheres Guerreiras, na Vida e na Literatura. O evento aconteceu no Cine
Vila Rica.
Mia Couto relata que é comovente a África vencer a lonjura, não só geograficamente, mas culturalmente. “Estou tão longe do meu país e ao mesmo tempo estou em casa. A literatura pode nos ajudar a questionar perante o mundo. Convida-nos a conhecer outros mundos. Haverá outros figurinos. Gostaria que houvesse uma coisa mais íntima, mais próxima”, fala o escritor que trabalha no intuito de diminuir o sofrimento do povo africano.
O autor diz que somos um conjunto de bactérias (isto está no nosso DNA) e que isso nos ajuda a centrar no resto. “Mais que salvar a terra deve-se valorizar as bactérias, principalmente as feias; a biodiversidade. Não só escrevo, mas trabalho nesta área. Viajo por todo Moçambique. É preciso entender o aquecimento global, as enchentes, enxurradas. Houve um descuido: as florestas foram dizimadas com os rios”, confessa o moçambicano que fala ter dificuldades em se considerar escritor. “Sou um produtor de histórias. E quero não empobrecer, não ter nada para contar.”
O biólogo diz que a terra é um ser vivo. “Salvando a nós, salvamos a terra. Salvar o projeto planetário humano é preciso. Apenas 5% é visível, existem as bactérias. O desafio é redefinirmos nossa relação com a natureza. Um novo olhar conseguido através da arquitetura. Um olhar capaz de escutar. A África ensina a escutar. Demorou um milhão de anos para chegarmos a um milhão de pessoas. Precisamos repensar nossas atitudes.”
  
Margarida Paredes

A autora de único livro (Tibete de África), Margarida Paredes, nasceu em Coimbra, em 1953. Em 1973, deixou, espontaneamente, Portugal, para lutar na Guerra Colonial, na África. “Muitos me chamam de traidora. Sou uma portuguesa que lutou pela independência de Angola (que era colônia portuguesa até 11 de novembro de 1975) ao lado do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Lutei contra meu
país.”
E afirma que o MPLA foi um espaço para ela exercer sua rebeldia. “Tive a reconfigurar a questão da revolução. Tive a pensar. Resolvi apostar na mulher. Em Angola os homens estão a se destruir. A mulher aproveitou até chegar ao poder. A mulher na soberania. Descobri uma comunidade de mulheres lindas pelo sofrimento. As mulheres não mudaram só com a guerra. Mulheres-polícia, mulheres-jornalistas, estão a influenciar o mundo. Em relação à escrita das mulheres, as mulheres na guerra, inventar é criar novo espaço. A literatura é luta.”
Margarida Paredes ressalta que para muitas mulheres a guerra foi uma oportunidade. “Oportunidade de luta pela igualdade. Elas têm outra visão do mundo. Estudaram. Muitas foram assediadas. Se casaram evitando que fossem discriminadas pela sociedade. Enfim, a guerra é uma epopeia perigosa. É heróica, inglória”, diz a escritora.
Depois da independência abandona o Exército Angolano e desenvolve trabalho cultural com crianças-soldado e órfãos de guerra. Regressou a Portugal em 1981. Domiciliada em Lisboa, vive em constantes viagens culturais pela Europa e África. Conhece bem o Brasil. Diz que não tem pátria definida.   
Explica que o idioma português está ganhando mais espaço em Angola. “Enquanto uma mãe fala até seis idiomas, o filho fala apenas o português.”
Destaca que é filha do Império Português. “Sou muito bem resolvida. Não tenho problema de deslocamento. Sou africana, portuguesa e brasileira. Venho de Coimbra. Estou muito castigada. Talvez esta seja a direção que eu escolha para tirar cultura. Uma literatura multirracial. Pertenço a um momento histórico em favor da África. O Imperialismo não marcou só Portugal, mas também a África. Apesar de ser filha de um Império, sou filha também da África.”

Confraria Cultural Brasil-Portugal

A presidente da entidade, Fátima Quadros, foi ao Fórum das Letras de Ouro Preto exclusivamente para conhecer Mia Couto e Margarida Paredes. “É uma honra conversar com estes dois escritores. Falei com eles sobre a Confraria Cultural Brasil-Portugal. E que terei satisfação em recebê-los em minha casa se algum dia puder vir a Divinópolis, como já fizeram os portugueses Tony Correia (ator) e Carlos Alberto Alves (jornalista). Carlos, inclusive, recebe, neste mês de dezembro, homenagem da imprensa portuguesa, em Lisboa, pelos seus 46 anos de profissão. Fiz questão de falar, também, sobre o Jornal Cantares, que sempre apóia não só a Confraria Cultural Brasil-Portugal, mas a classe artística em geral”, relata a mais portuguesa das brasileiras, a escritora Fátima Quadros.
Destacando que Fátima ama tanto Portugal que a decoração de sua casa é toda em estilo português.



*Pertence à Academia Divinopolitana de Letras e à Confraria Cultural Brasil-Portugal




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